Era uma vez um rapaz chamado Henrique que, como prenda de natal, queria um avião telecomandado que vira numa loja de brinquedos, mas os pais não lho davam porque ele tinha tido más notas.
Henrique andava triste e desanimado, pois sempre sonhara ter um avião como aquele.
O Natal aproximava-se e o rapaz não desistindo da ideia de obter o tão desejado presente, pôs em prática uma ideia que lhe surgira de repente. Decidira ajudar os avós que tinham uma quinta em Monte Córdova e que estavam a precisar de ajuda nas lides do campo.
Há dias, numa ida à quinta, tinha ouvido os avós a dizer que precisavam de alguém para cuidar dos animais e que pagavam muito bem por aquele serviço.
Henrique ficou entusiasmado com a ideia e resolveu conversar com os pais para os convencer a deixá-lo passar as férias de natal na quinta dos avós. Não ia ser difícil convencê-los, uma vez que os pais estavam a trabalhar e ele passava muito tempo sozinho.
Tal como previra, os pais concordaram.
No dia seguinte, fez as malas e foi ter com os avós. Quando chegou à quinta, perguntou-lhes se continuavam a precisar de alguém para cuidar dos animais. Os avós responderam que sim, mas acharam a pergunta estranha.
Henrique esclareceu-os:
- Eu queria um avião telecomandado, mas como tirei más notas na escola, os meus pais não mo dão. Quero trabalhar, para ver se ganho dinheiro para o comprar.
Os avós compreenderam a atitude do neto e resolveram ajudá-lo.
No primeiro dia de trabalho, tudo lhe pareceu difícil, mas com o tempo habituou-se. No entanto, como não deixava de ser um trabalho cansativo, no fim do almoço, sabia-lhe bem dormitar um bocadinho, coberto com a manta quentinha da avó, debaixo da maior árvore da quinta. Foi numa dessas sestas que lhe aconteceu algo extraordinário. Estava deitado debaixo da árvore, quando viu por cima da sua cabeça, no tronco, uma porta mágica que o transportou para um mundo fantástico. Em cada virar da esquina havia ilusionistas, trapezistas, equilibristas e palhaços.
Meteu-se à conversa com um palhaço, junto à estrada “Sentido Único do Peão”.
-Olá! - Disse-lhe o Palhaço Divertimento, apertando o seu nariz vermelho.
-Olá! - Respondeu Henrique a medo.
- Como vieste aqui parar? – Questionou o Palhaço.
-Nem eu sei muito bem – respondeu o menino ainda incrédulo - só me lembro de adormecer e depois descobrir uma porta mágica no tronco da árvore, entrar e vir ter aqui. Mas o que é isto?
- “Isto”, como tu lhe chamas é o Mundo dos Desejos e aqui, neste mundo, existe uma árvore capaz de concretizar todo e qualquer desejo – explicou o Palhaço.
- Isso é maravilhoso! Eu ando a trabalhar para comprar um avião telecomandado, pois sei que, no dia de natal, ele não vai cair do céu, embora voe.
- A trabalhar? Questionou o Palhaço.
- Sim – respondeu Henrique – os meus pais não mo dão, porque eu tirei más notas na escola. Também, os meus professores andam impossíveis, ele é os Tempos e Modos Verbais; ele é as Equações; ele é a Revolução Francesa… Não há quem aguente. De qualquer maneira, se tu dizes que existe essa tal árvore, tudo se torna mais fácil. Podes indicar-me onde é que a posso encontrar?
- Claro que sim - afirmou o Palhaço.
Henrique seguiu à risca as indicações do Palhaço, até que chegou a um cruzamento e o caminho dividiu-se: para a esquerda vermelho, para a direita verde.
Henrique ao deparar – se com aquela situação ficou uns minutos a relembrar as indicações que o palhaço lhe dera, mas não se recordava de ele lhe ter falado daquela encruzilhada. Esteve ali vários minutos a olhar os dois caminhos, mas nada lhe ocorria, até que de súbito apareceram dois duendes: um vermelho vindo do caminho vermelho e um verde vindo do caminho verde. Henrique foi ao seu encontro.
- Olá! Chamo-me Henrique. Podem-me ajudar a escolher o caminho certo?
- Qualquer caminho que tomes realizará os teus desejos – disseram os duendes em uníssono.
Henrique ficou ainda mais baralhado e questionou:
- Então porquê dois caminhos?
- Se escolheres o meu, depois de chegares à árvore e pedires o teu desejo, voltas para o mundo dos humanos. Disse o duende verde.
- Por outro lado, se escolheres o meu, após pedires o desejo, não voltas para o mundo de onde vieste e ficas cá. Disse o duende vermelho.
- Então é só escolher? Assim é fácil, vou pelo caminho vermelho, detesto a escola e os meus pais só discutem comigo.
- Vem então comigo, meu amigo Henrique. Disse o duende vermelho.
Henrique seguiu o duende pelo caminho vermelho, contente com a decisão que tomara. Nunca mais tinha de voltar para o aborrecimento do dia-a-dia humano e podia ter tudo o que desejava.
Nos primeiros quilómetros de caminho tudo era belo e harmonioso e, claro, como não podia deixar de ser, tudo vermelho, desde os frutos às folhas, das pedras às flores, até o céu e o sol eram vermelhos.
Já estavam a caminhar há bastante tempo, quando decidiu perguntar:
- Ainda é muito longe?
- Estamos já a chegar.
E uns metros mais à frente, avistaram um enorme portão vermelho que dava acesso a uma mansão enorme, também ela vermelha. Henrique foi convidado pelo duende a entrar, mas lá dentro, para seu espanto, tudo era sombrio e frio. Viam-se vários miúdos que deviam ter a mesma idade que a sua, mas ao contrário dele, estavam tristes, chorosos, sem brilho nos olhos.
O duende, ao ver que Henrique estava a aperceber-se de toda aquela tristeza, sem perder tempo, encaminhou-o até à árvore dos desejos.
- Vá, é a tua oportunidade, pede o que quiseres. Disse o duende de forma sedutora.
- Eu desejo ter um avião telecomandado!
E de uma forma mágica, nas suas mãos, apareceu o tão desejado avião.
Henrique começou a apreciá-lo, mas o duende agarrou nele e no seu avião e deu-lhe para a mão um pano e um balde.
- Vais limpar o chão, quando acabares, limpas os vidros e depois disso limpas o pátio.
- E o meu avião? Perguntou intrigado.
- Já tens o que querias. Nunca te disse que irias poder brincar com ele. A partir de agora trabalhas e mais nada. Escolheste o caminho errado, amigo.
Entristecido e desesperado deitou mãos à obra. De repente, um homenzinho minúsculo entregou-lhe uma carta. Trazia notícias do mundo humano. Dizia a carta que os pais dele estavam tristes, sentiam a sua falta e guardavam ainda a prenda dele debaixo da árvore: o seu desejado avião. Após leitura da carta, o rapaz desatou a correr e…acordou aflito, com a voz do avô que andara à sua procura para o ajudar a encaminhar os animais para o estábulo. Ainda entontecido, disse:
- Sabes, avô, afinal, o avião não é assim tão importante. O mais importante é o amor que os meus pais me têm e poder estar, no dia de natal, junto de todos aqueles que amo.
Turmas do 9º ano - Dezembro 2010