segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Um Natal diferente
9ºA,B,C,D 2009/2010
As férias de Natal tinham chegado. Faltava uma semana para o grande dia. Como sempre, estas férias eram muito esperadas pelas famílias, em especial pelos mais novos. Os sinais desta época eram bem visíveis: a neve branca e fria, que leva miúdos e graúdos ao exterior para se divertirem, as casas enfeitadas com luzes e adereços natalícios e a preocupação das pessoas em comprar presentes para oferecer a toda a família, na noite da consoada.
Numa aldeia do interior vivia a família Brandão, que era constituída por seis elementos: duas crianças, Maria João, a filha mais velha, Carlos, o filho mais novo, os pais e os avós maternos.
Este Natal ia ser diferente para esta família, visto que recebera um convite: passar a consoada numa cidade do litoral do Brasil, com familiares lá emigrados.
Era certo que ia ser uma experiência nova, já que para eles o Natal é sinal de tempo rigoroso de Inverno, mas também era uma boa maneira de descobrirem outras tradições, neste caso num país quente, em pleno Verão!
Em casa desta família abundava a alegria e o anseio pela ida, principalmente por parte dos benjamins. Sabendo que iam viver o Natal no Brasil, totalmente diferente do dos colegas, era para eles um motivo de grande agitação e orgulho.
O tempo quase não passava devido ao entusiasmo que sentiam por andar de avião pela primeira vez na vida, embora estivessem preocupados com o que poderia acontecer, principalmente os pais. Nunca tinham voado, muito menos ido ao Brasil.
O Carlos estava super entusiasmado, pois fazia-lhe confusão a ideia de passar o Natal com o calor de Verão.
Na véspera da partida, a casa estava num autêntico rebuliço, os pais corriam de um lado para o outro para conseguirem organizar tudo, os miúdos não paravam um segundo a tentarem ajudar e até os avós se sentiam cansados com tanta agitação.
Cerca das dezanove horas, quando tudo parecia já estar tranquilo e arranjado, tocaram à campainha.
A mãe abriu a porta e deparou-se com um homem com muito mau aspecto, que lhe pediu um copo de água. O homem estava com as roupas todas rasgadas, todo sujo, cheio de frio e a chorar.
Perante tal cenário, Sara chamou o marido para ver o estado do pobre homem. De imediato, Joel convidou-o a entrar.
Os filhos ao presenciarem esta cena ficaram assustados e fugiram para os seus quartos. Os avós não queriam acreditar no que se estava a passar e estavam curiosos para ver o que Joel iria fazer.
Sara questionou o marido para saber o que estava ele a fazer.
Joel com muita calma dirigiu-se à cozinha, regressou com um copo de água e ofereceu-o ao estranho homem.
De seguida limpou-lhe o rosto com um pano molhado em água quente e levou-o para a casa de banho. Lá, depois de um bom banho, ofereceu-lhe roupas suas em troca dos trapos que o pobre homem vestia.
Quando regressaram à sala, Sara ficou admirada com o estado do homem e com o próprio marido. Perante esta reacção Joel apenas lhe disse:
- Mais importante que umas férias no Brasil ou uma decoração natalícia é o simbolismo do Natal. O verdadeiro Natal, o Natal de solidariedade para com os outros, a ajuda aos que mais precisam.
Sara ficou sem palavras.
De seguida, foram chamar os filhos aos quartos e, descansando-os, disseram-lhes que o homem era inofensivo.
Enquanto desciam, Sara perguntou a Joel:
- E agora?
Joel não deu muita importância à pergunta e apenas encolheu os ombros.
Apesar de não ter dito nada, todos sabiam que a viagem ao Brasil estava em risco e, por isso, ficaram muito tristes. Sara não concordava com o silêncio do marido, mas resignara-se. Os avós, sem perceberem a razão de tal comportamento, perguntaram:
- Joel, o que vais fazer?
Este respondeu-lhes:
- Qualquer decisão que eu tome não é fácil para ninguém… O homem pediu-me ajuda e alojamento, pois parece que não tem família.
-Está bem, contra isso nada. Não ias deixar o pobrezinho na rua, mas estás a pôr a hipótese de não fazermos a viagem?
-Nada está decidido...
Após esta conversa, Joel foi para o seu quarto e pensou numa solução, enquanto todos, na sala, aguardavam.
Sara estava impaciente, os miúdos irrequietos, os avós ansiosos e assim era o ambiente que se vivia naquela casa.
No quarto, Joel, andava de um lado para o outro e as horas iam passando...
Passadas mais ou menos duas horas, Joel teve uma ideia e desceu para a sala, para a contar.
-Já tomei uma decisão.
Em uníssono perguntaram:
- Qual?
-Sempre vamos fazer a nossa viagem.
A alegria espalhou-se na sala e isso era bem visível. As crianças começaram a correr, saltando de um lado para o outro e dizendo “Brasil, aqui vamos nós!".
Os avós levantaram-se do sofá e ainda entontecidos, pois durante a espera tinham aproveitado para fazer uma bela soneca, perguntaram “ E então, já temos veredicto?”
Mas, de repente, todos pararam a pensar no pobre homem, que encolhido a um canto, não proferia palavra.
Sara perguntou:
- Joel, e o homenzinho? Onde vai ficar?
Joel com um sorriso na cara disse:
-Ele vai connosco.
E, assim, no dia seguinte, depois da casa arrumada e das malas à porta, as crianças, os pais, os avós e o Ernesto, o inesperado hóspede, já na porta, lançaram o último suspiro para dentro daquela casa.
Todos estavam radiantes. Ia ser único este Natal.
A chegada ao aeroporto foi um momento especial, finalmente iam realizar um sonho – voar como os pássaros!
Ernesto mal se instalou no avião disse para os seus botões:
- Nunca subi tão alto na vida, principalmente em felicidade! e não conseguiu controlar uma lágrima que não passou despercebida a Maria João que carinhosamente lhe sorriu.
Estavam prontos para a tão desejada, mas temida aventura.
Durante a longa viagem o tempo foi passando entre as orações dos avós, a soneca de Joel, o nervosismo de Sara, o sonho de Ernesto que mesmo acordado não parava de imaginar como seria se fosse ele o piloto do avião e a curiosidade e atenção dos miúdos em relação a tudo o que se passava à sua volta.
A tão desejada hora chegou, desembarcaram. Que emoção! Tinham cruzado o imenso oceano, estavam para além do horizonte tão distantes da sua casinha e da sua vida de sempre.
Estava um dia radioso e o reencontro foi emocionante. O avô João já não via há muitos anos Joaquim, o irmão aventureiro que um dia rumou ao novo mundo em busca de uma vida mais confortável.
A família tinha crescido, as pessoas estavam diferentes, mas sempre unidas, apesar de afastadas pela distância física.
Ernesto sentia-se estranho, sentia-se a mais naquela família.
Instalaram-se em casa de Joaquim, a felicidade transbordava. Ernesto percebeu o desejo desta família em celebrar junta o Natal. Era sem dúvida um Natal diferente para todos. A família Brandão estava feliz.
Ernesto sentia o calor humano e percebia o verdadeiro sentido da palavra família.
Vivia-se em pleno o espírito natalício.
9º Ano, Natal 2009
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